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DO DESEJO VELADO AO DESVELAR DA NUDEZ: fantasias e a virtualidade dos desejos em tempos de pandemia

Uma ligação, uma voz, um sussurro, uma imagem! Esse é o espaço no qual a tecnologia nos coloca, frente ao imaginário.
Por: PORTAL JG
Data de publicação: 31/05/2020 08h57

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Uma ligação, uma voz, um sussurro, uma imagem! Esse é o espaço no qual a tecnologia nos coloca, frente ao imaginário

Todo tipo de visão moralista fica fora deste texto. Para que você possa continuar essa leitura faça a escolha da suspensão dos juízos (valores morais), do contrário, sua leitura poderá ser em vão! Por sua vez, este “ensaio” não tem um fundo “moral”, ao qual você deve seguir. Pois, intencionalmente, o texto pode se perder no decorrer do caminho, nos próprios argumentos. Nesse sentido, não existe “início, meio ou fim”, ele se descortina em sua natureza intencional, em sua própria ambiguidade, em sua contramão!  

Confesso que este brilhante bazar de vaidades e de misérias humanas me atrai, sobretudo, pelos preciosos divertimentos que proporcionou à minha carne e a meu espírito. (Rétif de laBretonne – historiador)

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*Por Claudinei Pereira

Uma ligação, uma voz, um sussurro, uma imagem! Esse é o espaço no qual a tecnologia nos coloca, frente ao imaginário: a virtualidade dos desejos! Em tempos de pandemia substituímos os espaços físicos dos corpos pelos espaços virtuais das fantasias. Conteúdos “obscenos” são propagados em lives noturnas e em suas variadas formas. Mas por que não ao clarear do dia? Por que não à luz do sol? Ao que parece, a noite é o momento preferido, por alguma razão relacionada às manifestações mais profundas, diante da nebulosidade dos desejos velados, das manifestações de nossos demônios. “Entidades mesopotâmicas se apossam” de nós: os Íncubos, do latim – incubare (deitar em cima), e Súcubos, do latim - succumbere (deitar debaixo), entre variados entes de tradições culturais que buscam homens e mulheres para o sexo.

Vale ressaltar, todavia, que a presença sempre fora importante, mas agora se faz “desnecessária”. Não porque perdera o seu significado, mas porque se encontra na sua mais drástica improbabilidade. Diante da revolução virtual, nos percebemos ousados e descobrimos que não “estamos sozinhos”, conosco caminham os “demônios e deuses do erotismo”(Eros, Anteros, Himeros, Pothos). Ademais, vivemos diante de um contexto de experiências coletivas, como diria o psicanalista Contardo Calligaris: “Essa possibilidade inédita de socializar fantasias sexuais levou cada um a explicitar as suas. Para encontrar quem tope brincar comigo, devo conhecer meus gostos, na verdade, mais que conhecê-los, devo ser capaz de elaborá-los, de apresentá-los de maneira detalhada e, se possível, interessante” (Folha de S.Paulo, 11-12-2014). 

Nossas ficções eróticas e imaginárias dos objetos desejados se tornam reais, mesmo na virtualidade do “palácio da imaginação”. Aliás, a ideia de imagem vem da expressão latina lmaginatio, que “significa a possibilidade mental de evocar ou produzir imagens, independentemente da presença do objeto que se referem”. Nesse sentido, a imagem do desejo, tende a algo que não está presente. Santo Agostinho disse que “as imagens são originadas por coisas corpóreas e por meio das sensações: estas, uma vez recebidas, podem ser facilmente lembradas, distinguidas, multiplicadas, reduzidas, ampliadas, organizadas, invertidas, recompostas, de modo que mais agrade ao pensamento”. 

Vivemos aquilo que Robert Muchembled (2007), em sua obra O orgasmo e o ocidente: uma história do prazer do século XVI aos nossos dias, apresenta como “os prazeres da imaginação”. De acordo com o historiador, a ideia dos prazeres da imaginação é recorrente e passa a ocupar um lugar cada vez mais singular no século XVIII. “Toda contexto, favorável ao impresso e à imagem, permite o rápido desenvolvimento de um apetite artístico que ultrapassa os círculos restritos dos mecenas, dos aristocratas e da corte”. A arte pelo belo, pela paixão e pelo ‘belo sexo’ chega ao contexto de nossos dias. O exemplo que o autor destaca em sua é obra é de “Sir Francis Dashowood, barão de Despencer, um dos fundadores dos Dilettanti (sociedade britânica de nobres e estudiosos que patrocinavam o estudo da Arte Grega e Romana, e a criação de novas obras no estilo), é pintado por Hogarth, nos anos de 1750, como um padre adorando, não Cristo, mas uma pequena figura feminina nua, inteiramente exposta ao seu olhar, o que sugere que o desejo carnal se confunde com o do colecionador”. Corrobora ainda o autor que “os escândalos em torno do culto a Priapo ou dos fruidores que erigem [erguem] sua sensualidade em nova religião assinalam a volta de uma cultura do desejo. Já passou o tempo de esconder o seio que não se pode ver. Ao contrário, o peito feminino e a nudez dos corpos readquiriram direito de cidadania”.

A partir desse contexto, se abre uma nova maneira para o caminho do deleite ao estético, da imaginação erótica. “A contemplação da obra de arte tornando-se alegria do olhar, evocação do belo, prazer desinteressado”. Mas o que desejamos diante do objeto distante? O que ele nos representa simbólico e eroticamente? Neste momento pandêmico estamos “forçados” a desvelar nossa nudez, ou seja, os desejos ocultos, obscurecidos e velados são agora desvelados. Fora preciso cruzar razão e desejo para problematizar um dos mais antigos enigmas do mundo: o que é gozo e para quê ele serve?!

Que, a saber, gozo pode ser entendido a partir de duas caracterizações básicas: primeiro, o gozo, derivado do verbo gozar, que significa a realização do desejo; gozar da civilização, dos privilégios e das boas coisas da vida; gozar de uma obra de arte entre outras caracterizações; e do substantivo gozo: que literalmente está relacionado ao gozo sexual: gozo sexual enquanto usufruo de um prazer de natureza sexual; gozo sexual pervertido, entre outras. Além disso, distinguiram-se três formas possíveis de gozo: “a satisfação imediata dos desejos, o deleite vinculado ao orgulho da posse dos bens ou dos seres (palácios e jardins, belos cavalos, lindas mulheres, roupas magníficas, cozinha refinada, vinhos deliciosos...)”.

Todavia, nossa narrativa imaginária não busca uma investigação mais profunda sobre as características mais singulares e gerais da natureza do gozo, mas sua investigação destaca que mesmo diante de todo exibicionismo do corpo, das fantasias dos desejos humanos e do seu desvelamento pela revolução virtual, existe algo curioso: a exibição erótica nos coloca diante da nudez, mas sua excitação ainda se dá pelo não revelado. Nada melhor que Michel Foucault em História da sexualidade para nos professar essa “verdade”: “O que próprio das sociedades modernas não é o terem condenado o sexo a permanecer na obscuridade, mas sim o terem-se devotado a falar dele sempre, valorizando-o como segredo”. Como nos mostra o livro de Provérbios 9, 17: “A água roubada é mais doce, e o pão comido às ocultas é mais agradável”.

Para tanto, a modernidade não se funda somente na razão, mas no desejo, sendo ela a fundação dos desejos. É possível afirmar que o período das luzes se institui “nas luzes do desejo”, como atesta o historiador francês Robert Muchembled (2007): “A partir do século XVII, essa verdadeira dinâmica sexual deu lugar ao que [...] chama de erotismo das Luzes”. Ademais, “foi o momento do florescimento do desejo, momento em que a liberação dos espíritos, pela celebração do progresso, correspondeu à liberdade dos mores [costumes]. Na literatura se multiplicaram romances e diálogos entre o espírito e o corpo, a discrição e o despudor, a metáfora educada e a crueza pornográfica”. Literalmente, “o desejo passou a ser o motor do mundo”. 

Até então, todo tipo de manifestação do erotismo, da nudez era proibida. Em “As origens do sexo: uma história da primeira revolução sexual”, o historiador Faramerz Dabhoiwala (2013), ressalva que existira um divisor de águas especificamente entre os períodos de 1600 e 1800, mas suas origens continuam inexplicáveis. Várias são os exemplos dados pelo autor. Todavia, “sabe se que desde o início da história humana, todas as civilizações haviam prescrito leis severas contra pelo menos alguns tipos de imoralidade sexual. Tais códigos legais mais antigos que chegaram até nós (c.2.100 – 1700 a. C), redigidos pelos reis da Babilônia, faziam do adultério um crime punível com a morte, e maioria das outras culturas clássicas e do Oriente próximo também o tratavam com inflação grave, “essa era a visão adotada pelos assírios, os antigos egípcios, os judeus, os gregos e, até certo ponto, os romanos”, afirma o autor. 

Outros exemplos de tais radicalidades são destacados: o Código de Alfredo, o Grande (c. 893), legitimava que qualquer homem matasse outro caso o encontrasse “com sua esposa casada” a portas fechadas ou sob o mesmo cobertor, ou com sua filha legítima ou sua irmã legítima, ou com sua mãe; O rei Cnut (c. 1020 – 1023) proibia que homens casados sequer fornicassem com suas próprias escravas, e ordenava que as mulheres adúlteras fossem humilhadas publicamente, perdessem seus bens, e que suas orelhas e nariz fossem cortados. Como se não bastasse, o sexo, até mesmo entre os casados, em um contexto que se celebrasse o erotismo conjugal (Exemplo, “Cântico dos Cânticos”), ainda devia ser estritamente limitado em sua ocasião, local e propósito (apenas para procriação, não por prazer), e sempre tinha que ser seguido de purificação, ritual para lavar a sujeira do ato. 

Para São Paulo Apóstolo, “seria bom que o homem não tocar em mulher”, pois o sexo poderia seduzir a mente e o corpo do homem, desviando-o de seu propósito maior, isto é, a comunhão com Deus. No fundo, “o casamento era apenas uma indulgência lamentável aos que eram fracos demais para domar seus impulsos corporais”, afirma-nos Faramerz Dabhoiwala. Além disto, como não se lembrar de um trecho famoso das Confissões, de Santo Agostinho, que mesmo ao observar suas fornicações, seus clamores a Deus em oração fora: “dai-me castidade e autocontrole  - mas por favor, ainda não”.

Seguramente, no contexto da Alta Idade Média obteve-se uma aceleração diante da disciplina sexual. A fundação de tribunais permanentes da própria Igreja, que de acordo com nosso autor, aconteceu aproximadamente em 1100, transformara a punição de infrações sexuais entre a população. Em Londres, Bristol e Gloucester, construíram uma “gaiola” pública especial no mercado principal, onde prendiam e expunham prostitutas, adúlteros e padres libidinosos. 

Além de tudo, com advento da Reforma protestante, personagens como Lutero, Zwingli, Bucer, Bullinger entre outros líderes eram favoráveis por penas pesadas de disciplina moral: fechamento de bordeis, expulsão de prostitutas, e punições severas para adultério e fornicação. Descreve Faramerz Dabhoiwala (2013): a revisão da Lei Canônica, liderada pelo arcebispo inglês Cranmer, por volta de 1552, “recomendava que os adúlteros sofressem a prisão perpétua ou exílio (embora o apedrejamento até a morte, como notavam os comissários com uma certa nostalgia, fosse ‘a punição especialmente criada para isto por nossos patriarcas)”.  “No mínimo prostitutas, fornicadores e adúlteros deviriam ser marcados com ferros quentes na bochecha ou na testa, sugeriu o escritor Philip Stubbes, para que ‘os cristãos honestes e castos se possam distinguir dos filhos adúlteros de Satã’”. 

Essa breve e histórica descrição nos mostra como eram vistas, vividas e punidas as práticas sexuais. Ou seja, a valorização da carne fora sufocada pela valorização do espírito no contexto do Cristianismo, como se vê na própria narrativa da escritura: “Mas se vos deixar guiar pelo Espírito, não estais debaixo da lei. Ora as obras da carne são manifestas: fornicação, impureza, libertinagem [..] (Gálatas, 5, 18-19); “Com efeito, os que vivem segundo a carne desejam as coisas da carne, e os que vivem segundo o espírito, as coisas que são do espírito” (Romanos, 8,5); “Fugir da fornicação. [...] aquele, porém, que se entrega à fornicação, peca contra o próprio corpo.” (Coríntios, 6,18), entre  outros exemplos. A tradição nos afirmara que os amantes da carne são inimigos de Deus. Entretanto, como protesta Oswaldo Montenegro em “A lógica da criação”: “Se o sexo é tão proibido, porque Ele criou a paixão?”. Eis uma boa pergunta! 

Entretanto, nossa análise não é teológica, exegética ou mesmo espiritualista, mas provocativa e libertina, pois o que nos sobrou dos evangelhos é o que mais nos agrada: o “vinho e o pecado”! Aqui não cabe puritanismo, moralismo, conservadorismo, mas cabe a embriaguês do vinho dionisíaco, a literatura pornográfica de Marquês de Sade em os 120 dias de Sodoma ou a escola da libertinagem; Os crimes do amor, até Charles Bukowski em Crônica de um amor louco: ereções, ejaculações e exibicionismo, só para dar alguns exemplos. 

 Por isso, nos cabe a violação do livro do Êxodo do mandamento sagrado: “Não cometerás adultério”. Aliás, aqui nos cabe o “direito ao delírio”, como apresenta Eduardo Galeano em seu poema El derecho al Delírio: “La Santa Madre Iglesia corrigirá algumas erratas da las tablas de Moises, e al sexto mandamento ordenará ‘festejar el cuerpo’ [A Santa Mãe Igreja corrigirá algumas e erratas das escrituras de Moisés, e o Sexto Mandamento mandará ‘festejar o corpo’]. Aqui, as transgressões e fornicações de Sodoma e Gomorra não serão condenadas, mas serão louvadas. Sodoma e Gomorra não serão destruídas, mas reerguidas. Aqui, todos os filhos de suas imundícies serão premiados com galardões diante de suas virtude libertinas terrenas. O fruto proibido na narrativa do Gênesis será restituído e premiado por Iahweh: “ao vencedor, ceder-lhe-ei comer da árvore da vida que está no paraíso de Deus” (Apocalipse 2, 7). 

Aqui, as mulheres adulteras e prostitutas não serão constrangidas em meio à multidão, mas escribas, fariseus e doutores da Lei é que serão constrangidos, pois perceberão que perderam a valiosa experiência do “putanear” com aquelas que “nos precederão no reino dos céus!”. A ordem joanina será reescrita na boca do Messias. Ele não dirá “Vai, e de agora em diante não peques mais”, mas dirá “Vai, e volte a pecares”. 

Eles perceberão que elas nos ensinam a vida pela contramão. Como diria Ezio Bazzo, em Prostitutas, bruxas e donas de casa: notícias do Éden e do calvário feminino: “difícil compreender como uma mulher estranha e bêbada pode ser muito mais carinhosa que aquela com quem compartilha todos os dias e todas as horas. Sente-se perdido no meio de tantos paradoxos. [...] A música, o conhaque, a contravenção (transgressão)... Ali o tempo parece não ser tão corrosivo. Não há nem vestígios de Deus, de lei ou de moralismos. Ali se tem a ilusão, inclusive, de que foram as putas, as piranhas e as libertinas, livres da falsidade estabelecida, que edificaram tudo o que existe de transcendente, de respeitável e de desestabilizador neste planeta”. Queres “salvar” seus grandes amores eternos? Então, permitam-se envolvidos por esta declaração: “no entanto, fiquem avisados: sua trama está machada de sangue, seus personagens depravados e seus temas no mínimo são perniciosos. Porém, para conhecermos a virtude, devemos conhecer bem o vício. Somente então poderemos conhecer o valor integral de um homem! Por isso eu os desafio: virem à página!” (Marquês de Sade). 

 Além de tudo, aqui, aqueles que foram descritos pela celebre obra de Dante Alighieri em La Divina Commedia - Inferno [A Divina Comédia] que se encontram presos nos círculos do inferno por variadas valas como rufiões, sedutores, sodomistas, fornicadores, que se vêem no giro do sétimo círculo diante de um areão ardente, sob uma chuva de chipas [centelhas] de fogo; os sodomistas, obrigados a um contínuo caminhar que bradavam: “O vendetta di Dio, quanto tu dei esser temuta da ciascun che legge ciò che fu manifesto a li occchi mei!” [ Ó vingança de Deus, como temida deves ser quem, lendo-me, a reporte a essa cena quem era oferecida!], estes, por sua vez, sodomistas e pecadores, os que cometeram adultério, seus dias de temores chegaram ao fim. Vosso lugar é o Paraíso! Aqui, a passagem sagrada que anuncia aquele considerado o “pai da mentira”: “Vós sois do diabo. [...] Ele foi homicida desde o princípio e não permaneceu na verdade, por que nele não há verdade: quando mente, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Mateus, 8,44), também será reescrita e se dirás: “Tu eis a fonte do desvelamento, pois anjos caídos e legiões passeiam na penumbra da noite, relevando nossos desejos mais ocultos, ao qual, buscamos esconder”.

Esta é a configuração metafórica e narrativa, que busca desvelar o velado, desnudar aquilo que estava coberto, ou seja, nos despir de “plena nudez”.   

Por sua vez, esse texto nos provoca a celebração dos corpos, neste momento narrativo, o corpo torna-se o “maravilhoso carnal”. Deve ser descrito, apreciado em seus detalhes, reverenciado, contemplado em seu desnudamento abissal. Ele, o corpo...

Meu prazer mais refinado,

Não sou eu quem vai senti-lo.

É ele, por mim, rapace,

e dá mastigados restos à minha fome absoluta

(Poema - O CORPO, Carlos Drummond de Andrade.)

Mulher andando nua pela casa,

envolve a gente de tamanha paz.

Não é nudez datada, provocante.

É um andar vestida de nudez,

inocente de irmã e copo d´água.

O corpo nem sequer é percebido,

pelo ritmo que o leva.

Transitam curvas em estado de pureza,

dando este nome à vida: castidade.

Pelos que fascinavam não perturbam.

Seios, nádegas (tácito armistício)

repousam de guerra. Também eu repouso.

(Poema – MULHER ANDANDO NUA PELA CASA, Carlos Drummond de Andrade.)

O corpo, poetizado e descrito de maneira magistral por Carlos Drummond de Andrade.  Sua exposição poética do corpo no fundo desvela a nudez dos nossos desejos. Tal exteriorização nos revele e vele ao mesmo tempo paradoxalmente. 

 Como conclusão, aqui ainda nos cabe um outro nome, que talvez seja o mais “propício” para  descrição dos mistérios do desejo: Sigmund Freud, em “Projeto para um a psicologia cientifica (1985), afirma que o desejo é entendido como ‘atração positiva para o objetivo desejado, ou mais precisamente, por sua imagem mnêmica [ato de memorizar]”. Entretanto, é em Intepretação dos sonhos (1900/1992b), que encontramos tais ideias fundamentando uma metapsicologia em que aparecem mais claramente articulados e discutidos os principais elementos da concepção freudiana de desejo. Porém, não queremos fazer uma exaustiva análise, não é nosso objetivo, mas dizer, parafraseando o autor, que o desejo passa por uma espécie de força motriz da ação do sujeito, uma vivência de satisfação dos afetos. Diria o autor (1911/2004b), “os processos inconscientes aspiram à obtenção do desejo”. Claro, uma maneira sintética de caracterizar aquilo que parece incaracterizável: “a fonte e princípios dos desejos”. 

Ao certo, após finalizar este descritivo, elucidativo e provocativo texto, nos cabe nossa última palavra: o que fazer dos nossos desejos tão velados, que agora se desvelam de maneira potencial, mas ao mesmo tempo sua excitação deve permanecer em segredo? Qual a natureza do gozo? Qual seria o “princípio do prazer”? Quais os imaginários “pandêmicos” aos quais buscamos realizar? Bom, talvez a resposta não esteja neste texto, pois todo tipo de base teórica se esvai, já que ao que parece talvez “ainda nos falta mais promiscuidade, libertinagem, devassidão, erotismo”. Talvez ainda nos falte revelar nossos corpos em sua plena e abismal nudez, sermos, como diria Drummond, “pornográfico, aliás, docemente pornográficos”.  

*Claudinei Pereira - Mestre em Filosofia Ética e Política pela Universidade Federal do Piauí-UFPI e Doutorando em Filosofia pela Universidade Federal do Espírito-UFES.

Instagram: clausobreski





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