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"Coronavírus e o isolamento como alteridade", por Misael Jansen

O gênero humano percebeu a sua vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de cuidar de si mesmo e do outro.
Por: PORTAL JG
Data de publicação: 24/05/2020 10h04

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Misael Barbosa Jansen - Servidor Público

A pandemia do COVID-19 trouxe uma mudança no comportamento humano, exigindo um isolamento como defesa imunológica individual e coletiva como forma de impedir a expansão do vírus. O sujeito moderno vive em constante velocidade para alcançar suas metas e projetos - mas diante do medo trazido pelo novo coronavírus - o gênero humano percebeu a sua vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de cuidar de si mesmo e do outro. 

Trata-se da ética da alteridade. Cada ser humano é responsável pela preservação tanto da sua vida como do outro e não a eliminar, mas com responsabilidade ética pelo outro como o estrangeiro que chega e precisa de cuidado e hospitalidade. Na Era de informação e de pandemia, o cuidado com o próximo está também em circular informação verdadeira nas redes sociais como preservação da vida humana.

Na Era da antropotécnica, o ser humano está junto, mas isolado, conectado, é o presente ausente; uma vez que está interagindo com pessoas que se encontram ausentes do ambiente em que se encontram e não contemplam a face do outro que está ao seu lado. O isolamento trouxe uma exaustão, um cansaço - porque o ser humano contemporâneo vive em constante movimento - seja por aqueles que viajam ou por aqueles que buscam a sua sobrevivência em uma sociedade global e desigual. O sujeito que se encontra na sua oiko (casa), ele está com saudade não da coletividade que não existe, contudo, o deslocamento para o espaço público como forma de satisfazer seu ego. 

Na sociedade contemporânea neoliberal, principalmente nos grandes centros urbanos, o social cedeu lugar ao individual. Desse modo, segundo Hans (2018, p. 33) “O socius [social] dá lugar ao solus [ sozinho]. Não há multidão, mas sim solidão que caracteriza a constituição social atual. Ela é abarcada por uma desintegração generalizada do comum e do comunitário. A solidariedade desaparece. A privatização avança até a alma”.  

O COVID-19 mostrou que a humanidade estava indo a caminho tenebroso, revelou o medo e a solidariedade como sentimentos de sobrevivência da espécie humana. Revelou que o ser humano precisa resgatar a sociabilidade como fator essencial. Ficar em casa, diante do cenário da pandemia, é um dever ético e moral. Trata-se de uma questão prática cuidar de si e do outro. Responsabilidade mútua, como diz Lévinas (2004, p.143) “A responsabilidade pelo o próximo é, sem dúvida, o nome grave do que se chama amor do próximo, amor sem Eros, caridade, amor em que o momento ético domina o momento passional, amor sem concupiscência”. O ato ético se dá pelo respeito ao diferente sempre a partir da separação, desnivelamento que a alteridade se manifesta. Somos todos responsáveis uns pelos outros não importa se conhecemos ou não. 

O Estado brasileiro - neste momento de calamidade pública - deve agir com eficiência para acolher os terceiros (contribuintes-cidadãos brasileiros) que batem exigindo saúde pública de qualidade, evitando assim, que as cidades se tornem “aterros sanitários” do COVID-19. 

No combate ao COVID-19, a união entre Estado e sociedade civil é importante. As pessoas precisam desenvolver o senso de amor pela humanidade, ficando em casa, cuidando da higienização e da saúde psíquica. O Estado deve desenvolver políticas sociais voltadas para a saúde ( UTIs e profissionais com conhecimento científico e técnico), e que seja capaz de sanar a necessidade física e emocional dos seus cidadãos que se encontram em estado de pânico social. 

Referências 

HAN, Bung-Chul. No enxame: Perspectivas do digital. Petrópolis: Vozes, 218.

LEVINAS, Emmanuel. Entre nós. Ensaios sobre a alteridade. Petrópolis: vozes, 2004.

 





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