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Provocações filosóficas: olhares diversos

Por: Claudinei Pereira
Mestre em Filosofia Ética e Política pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e Doutorando em Filosofia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).


Uma homenagem ao nosso amigo Herbert/ Neto


Data: 08/01/2022 23:17
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“O essencial é invisível aos olhos. Só se vê com o coração.”         

Herbert Neto faleceu neste sábado

Gostaria de deixar aqui a minha homenagem ao nosso querido amigo Herbert Viana M. Neto, que infelizmente nos deixara hoje, dia 8 de janeiro de 2022. A experiência da morte não é simples de descrever em palavras. Aliás, não nos é necessário nesse momento. 

Prefiro nesse dia traduzir aos colegas e familiares a minha experiência de vivência com o nosso conterrâneo Herbert, ou simplesmente, meu (nosso) grande amigo Neto. 

Primeiro, a ideia dos porquês de alguns eventos praticamente são quase impossíveis de descrevê-los, mas, o mais interessante para cada um de nós é que guardemos o que de mais significativo tivemos juntos. A primeira imagem que me vem a cabeça, não é seus momentos de fragilidade enquanto humano, ao qual, qualquer um de nós pode passar. Mas, me detenho nos momentos jubilosos da nossa infância. O período em que a tecnologia não fazia parte da nossa rotina, o que mais nos alegrava era estarmos juntos contando histórias, jogando futebol na rua e despreocupados com as horas, brincando de bonecos de papel na calçada de casa. Além disso, nossa infância não passou pela cronologia do tempo tecnológico. Mas, fora vivenciada no dia a dia, onde a nossa “única preocupação” era esperar o dia seguinte. 

O tempo da infância se fora, todavia, novas experiências e laços permaneceram. Agora, mais amadurecidos, a religião e a experiência paroquial como coroinhas na Paróquia Nossa Senhora da Conceição se tornaria parte das nossas rotinas semanais. A transição da infância para juventude, a vida cotidiana paroquial se tornara frequente. Todos nós praticamente da mesma rua buscamos compartilhar uma nova fase, mas, não mais dos bonecos de papel, mas da vida espiritual. Mesmo talvez sem ter muita noção do seu significado, ela de uma maneira fizera parte das nossas vidas. Eu, Neto, Nielson, Helson... Todos (entre outros) nós que vivenciamos a rotina das brincadeiras parece que daríamos um “salto” para o amadurecimento, da juventude para a vida adulta. Realmente, foram experiências significativas. Os conselhos sábios de Dona Santa; as conversas humorísticas de Dona Dadá; a descrição de Cléia e a presença leve diante da preservação da jovialidade quase divina dada pelos deuses à Cristina Moniz (mãe de Neto) foram de extrema significância. 

 Sim, elas agora representam a simbologia da Nossa Senhora das Rosas Místicas: a rosa branca, que indica sabedoria; a rosa amarela, que indica luz e amor e a rosa vermelha, que indica Maria, como Mãe das Dores e da Misericórdia. Nada mais propicio para este momento.  

Todos (as) esses personagens fazem parte de uma única história que felizmente permanece. São muitos nomes que envolvem um único personagem: Herbert/Neto.   

Todos nós saímos do mundo imaginário da infância e atravessamos a nossa juventude até a nossa fase adulta. Tempo este de maior desafio. Estudo, trabalho, rotinas, busca por nossas conquistas individuais. Cada um seu modo e a partir das suas próprias escolhas. Todavia, a implacável rotina do tempo e exigências do mundo pode nos ter distanciado um pouco, ou como diria o poeta Fernando Pessoa: “dessa prisão fechada que é o mundo”, mas mesmo assim, cada experiência dos momentos juntos fazer parte de um legado que só nós sabemos o significado. A palavra amizade tem uma força misteriosa. Talvez, em alguns casos até mais fortes que os nossos próprios amores. Quem abriria mão de tudo para que tudo retornasse ao seu lugar? Quem seria capaz se atravessa todos os estágios do Inferno de Dante Alighieri e encontra aquilo que lhe é mais sagrado? Sim, este é o amigo. Não é por acaso que Vinicius de Morais declarara que “morram todos os meus amores, mas enlouquecerei se morressem os meus amigos.” Aqui, não estamos falando de metáforas, mas de fatos: a morte do nosso querido amigo.  Todavia, se a ciência é impossível nos dar um conforto no momento da fatalidade, por outro lado, a religião, a poesia, a literatura e a filosofia, dimensões essas caracterizadas por alguns teóricos da filosofia como ciências do espírito, nos dão o alimento espiritual do conforto, da paz e da esperança. “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá.” (João 11: 25). 

O grito poético ao qual exala os nossos corações nos afirma e reafirma essa verdade descrita na Canção da América de Milton Nascimento: “o que importa agora é ouvir a voz do coração.” Ademais, agora vivenciamos nossas vidas como se fossem descritas no diálogo entre o Pequeno Príncipe e a Raposa: 

Assim o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:

__ Ah! Eu vou chorar.

__ A culpa é tua -disse o principezinho. __ Eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

__ Quis -disse a raposa.

__ Mas tu vais chorar! -disse ele.

__ Vou - disse a raposa.

__ Então não terás ganho nada!

__ Terei, sim - disse a raposa __ por causa da cor do trigo.

Depois ela acrescentou:

__ Vai rever as rosas. Assim, compreenderá que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te presentearei com um segredo.

O segredo é a cor do trigo, pois, “só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.” Que não nos esqueçamos da cor do trigo, porque, “não importa se tu vens estar, quem permanece nunca pode partir. Não importa se tu vais ficar. Quem sempre esteve nunca deixa de vir.”   

 


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